segunda-feira, 13 de julho de 2009

Letícia Parente - Marca registrada, 1974


Um corpo feminino sentado num banco com as pernas cruzadas e um dos pés diante da câmera, no ambiente externo de uma casa. Nas mãos, agulha e linha. Com firmeza a linha é passada pelo buraco da agulha e faz um nó em uma das pontas. A mão delicada, com as unhas pintadas de esmalte - cor suave - deliberadamente inicia uma costura incomum. Aqui o suporte não é algodão ou linho, mas a própria pele da artista. Não há titubeios, são gestos precisos os de Letícia Parente em sua performance frente ao vídeo. Como resultado da ação, após dez minutos ininterruptos, sem cortes, vemos inscrito Made in Brazil na sola de seu pé (Mello apud Santaella, 2003, p.71)

O vídeo de Letícia Parente, pode ser considerado plurisemântico, se for analizado o contexto em que a performance foi realizada.
Em 1974, o Brasil estava em meio a ditadura militar, a liberdade de expressão era reprimida e a mulher começava a lutar por seus direitos igualitários. Parente exibe em sua poética a dor, usa a costura - uma das formas mais banais e representativas da mulher comum dos anos 1970, para dar vida ao trabalho em que seu corpo é o suporte. Ao escrever Made in Brazil na sola do pé, a irônia se apresenta de forma implícita.





Referência
Santaella, Lucia . As artes do corpo biocibernético. In: Diana Domingues. (Org.). Arte e vida no século XXI. São Paulo: Unesp, 2003, p. 65-94.

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